"Tchê, é noite para cavalgar
Camperear nas coxilhas,
Nas invernadas da vida.
Enquanto mateio solito,
E, perto do céu do Patrão,
Dos campos lá de cima,
Penso,
[porque estou vivo]
Que tu, Boeing 707
Tu estás tão idoso.
E olha que já fostes guapo,
Tinhas um trote valoroso,
Parecias como desfilando
Galopando, sobre os pampas,
Ou em milongas no espaço
[feito um xucro]
Mateio e relembro o espelho
Dos teus metais brilhantes
Feito armas farroupilhas.
Eram as pratas do teu corpo,
Na tua fuselagem gigante.
Eu arregalo os olhos,
Porque meus pensamentos,
Ainda que quietos, ouvistes.
E lento te aprochegas.
Sinto que queres meus afagos,
Jogo longe o relho de couro
[de vaca, trançado]
Te miro, passo em ti o laço
Te puxo e te longo abraço.
E logo te passo o mate,
Espicho bem os olhos
E a ti me comparo.
Meus campos são curtos.
Não sou assim como tu.
Acho que nunca fui guapo,
E muito menos, bem menos,
Voador, brioso, e arrojado.
Tu eras!
E continuas, afinado,
Na mente dos patrícios.
Não és um bagual grosso,
És ente todo enfeitado!
Tinhas uma estrela
Reluzente, no teu dorso,
Ela brilhava e brilha
[O tempo não a apagou]
Tchê, Boeing 707, eu te conto,
Restou-me a querência do tempo,
Nele te encilhei para nunca,
Mesmo em fandangos, te esquecer.
Nesse trote da minha vida,
Que só queria contigo trilhar
Te digo, palavra de gaúcho,
Que tu, Rei dos Pagos,
E eu, em teu costado,
Voamos
E voamos,
Que Voamos.
Ainda voamos.."